Olá pessoal, tudo bem? Já faz algum tempo que venho recebendo emails de diversas partes do Brasil me pedindo mais informações sobre a carreira de Analista de Comércio Exterior. Então resolvi escrever um pequeno texto para clarear as dúvidas mais frequentes sobre isso, mas me coloco a disposição em responder quaisquer outras ok?
Falar sobre a minha nova carreira em um momento tão bom como o que estou vivendo eu diria que é um pouco perigoso para vocês, pois vou querer influenciar-lhes de toda e qualquer maneira a estudar para o cargo de Analista de Comércio Exterior.
Vou então começar com uma pequena história para que vocês possam compreender um pouco mais sobre a carreira! Como você já deve saber, no início da década de 90, o Brasil implementou a abertura comercial com redução de tarifas de importação e reformulação dos incentivos às exportações. Os fluxos comerciais se intensificaram e foi criado o MERCOSUL. Nesta década também foi instituída a Organização Mundial de Comércio (OMC), organismo multilateral responsável pela regulamentação do comércio. Para você ter uma idéia do quanto o comércio exterior passou a ser importante para o nosso país, considerando-se o período entre 1990 e 2008, houve um crescimento de mais de 440% do fluxo comercial do Brasil com o mundo. Isso dobrou a importância do comércio exterior no PIB nacional, que saltou de 11% para 22%.
Para fazer frente a essa nova e crescente demanda foi criada a carreira de Analista de Comércio Exterior em 1998, concebida para desempenhar atividades voltadas para a formulação, implementação, controle e avaliação de políticas públicas de comércio exterior. O Analista de Comércio Exterior pode desempenhar funções em todo o MDIC(Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior), que conta com quatro secretarias: Secretaria de Comércio Exterior (SECEX), Secretaria de Comércio e Serviços (SCS), Secretaria de Desenvolvimento da Produção (SDP) e Secretaria de Tecnologia Industrial (STI). Pode também atuar na CAMEX, que embora não seja vinculada ao MDIC, mas ao Conselho de Governo, tem suas instalações neste Ministério.
Cada uma dessas Secretarias tem competências e atividades bem diferenciadas, de forma que o ACE poderá atuar na atividade que melhor se coaduna com o seu perfil. Falando mais especificamente da SECEX, onde estou lotado, ela está dividida em 4 (quatro) Departamentos: DECEX, DECOM, DEINT e DEPLA.
No DECEX, o ACE tem contato com a parte mais operacional do comércio exterior. O pessoal costuma brincar lá no MDIC que, se estivéssemos em uma guerra, os integrantes do DECEX seriam a Infantaria, combatendo em trincheiras. É no DECEX que são feitas as análises dos licenciamentos de importação, registros de exportação e atos concessórios de drawback. Sem dúvida alguma, a maior demanda de todo o MDIC está concentrada nesse Departamento. É lá que começa todo o comércio exterior brasileiro através do exercício do chamado controle administrativo. É bem verdade que a maior parte das importações brasileiras está dispensada de licenciamento prévio, mas em épocas mais protecionistas isso foi muito diferente! Trabalhar no DECEX te possibilita ter um conhecimento bastante amplo da normativa do comércio exterior brasileiro, não só aquela relacionada ao controle administrativo, mas também as relacionadas com o controle aduaneiro e o controle cambial. Essa semana, por exemplo, participaremos de visitação técnica ao Porto de Santos, na qual teremos a oportunidade de verificar como funciona o fluxo das operações no maior porto da América Latina, verificando ainda in locu o trabalho da RFB. Pela visão ampla do comércio exterior que te possibilita, acredito que todo ACE deveria ter a oportunidade de trabalhar no DECEX.
O DECOM é o responsável pelas atividades relacionadas à defesa comercial, proteção da indústria nacional e ainda apoiar o exportador brasileiro submetido a investigações de defesa comercial no exterior. Para trabalhar no DECOM, é fundamental ter conhecimentos de Contabilidade (para analisar as demonstrações contábeis de empresas), Economia (analisar se ocorre ou não dano à indústria nacional), Estatística (vocês não imaginam o tamanho das planilhas do DECOM!) e ainda Direito (os processos deste Departamento são enormes!). Neste Departamento, a atividade desempenhada é fundamental à indústria nacional! Em tempos de crise como o de hoje, o acúmulo de estoques em países como China, Taiwan e outros implica em uma desova de produtos no mercado internacional a preços baixíssimos, extremamente perniciosos à indústria nacional. A área de defesa comercial cresce muito nos dias de hoje e exige alta especialização e conhecimento técnico, somente adquirido com anos de experiência. Segundo a professora Vera Thortensen, integrante da delegação brasileira junto à OMC, a China está formando inúmeros especialistas em defesa comercial com o objetivo de defender seus exportadores submetidos a investigações de defesa comercial. O Brasil também precisa se preparar para esses desafios do futuro!
O DEINT é o responsável pelas negociações internacionais brasileiras na área de comércio exterior. O MRE atua na parte formal da negociação e o DEINT entra com o conhecimento técnico e especializado. Seja no MERCOSUL, seja nas Rodadas de Negociação no âmbito da OMC, seja em negociações bilaterais, o profissional do DEINT precisa conhecer com profundidade o comércio exterior brasileiro e suas principais demandas, a fim de que, em uma negociação internacional, o Brasil possa ter seus interesses atendidos o melhor possível. Muitas vezes, a negociação de um acordo bilateral sanitário ou técnico com um país pode implicar em um maior acesso a mercado do que um acordo de redução tarifária. Se você quer ir para o DEINT, tenha bastante disponibilidade para viagens internacionais e saiba falar outras línguas. O MDIC, quanto a esse ponto, incentiva muito os ACE’s, proporcionando que estes realizem gratuitamente cursos de inglês, espanhol, francês e até mandarim!
O DEPLA é o órgão responsável pelo planejamento e desenvolvimento das políticas de comércio exterior. É também responsável pela elaboração e divulgação das estatísticas de comércio exterior. Atua organizando os ENCOMEX (Encontros de Comércio Exterior), que consistem em eventos realizados nas principais cidades do país no intuito de intercambiar com o setor privado informações e oportunidades. O DEPLA desenvolve ainda outros importantes projetos, como o Programa Primeira Exportação - incentivando a participação de micro e pequenas empresas brasileiras no comércio internacional – e o Programa Rede Agentes – divulgando a cultura exportadora pelos Estados da Federação. Atualmente, o DEPLA desenvolve também a criação das Zonas de Processamento de Exportações. Se o DECEX é considerado a Infantaria na guerra diária do comércio exterior, o DEPLA pode ser considerado o estrategista! Dependendo do setor para o qual você seja direcionado no DEPLA, é bom estar preparado para muitas viagens nacionais!
O ACE, como eu disse anteriormente, poderá atuar também na CAMEX, que é o fórum em que são tomadas as principais decisões em políticas de comércio exterior. Os profissionais da CAMEX precisam ter grande conhecimento e visão ampla do comércio exterior, pois irão elaborar estudos que chegarão nas mãos do Conselho de Ministros, que irá deliberar levando em consideração as informações a eles repassadas.
Como se vê, o escopo de atuação do Analista de Comércio Exterior é bastante diversificado e ainda tem muito que evoluir. Só para você ter uma noção, em 2005 o Brasil era a 10ª economia mundial e tinha 24,66% de participação do comércio internacional em seu Produto Interno Bruto, o que era substancialmente inferior à media das 15 maiores economias do mundo – 44,43%. O mesmo pode-se dizer da participação do Brasil nos fluxos internacionais de comércio, dos quais o Brasil respondia por 0,92% contra uma média de 3,98% das 15 maiores economias do mundo.
Desde as teorias de Adam Smith e David Ricardo, o desenvolvimento e crescimento econômico estiveram sempre ligados ao comércio internacional. Se o Brasil deseja confirmar as expectativas que o mundo tem em relação a ele enquanto futura potência global, muito há que crescer nos próximos anos no campo do comércio internacional e, para isso, necessita de um corpo técnico altamente especializado, motivado e preparado para vencer os novos desafios que se apresentam. Nesse contexto, a carreira de Analista de Comércio Exterior cresce de importância e sinaliza como muito promissora para o futuro. O Conselho de Ministros da CAMEX já entrou em consenso, inclusive, quanto à necessidade de sua ampliação, o que deverá ocorrer nos próximos anos com a criação de novos cargos. Há ainda a previsão de que haja concurso no próximo ano, essa é uma grande briga do MDIC!
Quanto a viagens internacionais, o MDIC oferece inúmeras oportunidades. Para vocês terem uma idéia estarei indo na semana que vem para Montevidéu onde farei um curso de duas semanas na ALADI ( Associação Latino Americana de Integração).
“O segredo do sucesso é a constância no objetivo”
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